quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A arte africana segundo Carl Einstein – textos inéditos no Brasil



Uma obra que se revela polifônica, Carl Einstein e a arte da África, organizada pela uruguaia Elena O’Neill e pelo brasileiro Roberto Conduru, reúne os escritos de Einstein sobre a arte africana e os justapõem a textos de autores da América do Sul, da Europa e da África para publicação inédita no Brasil – desafiando, assim, o etnocentrismo ainda hegemônico e contribuindo com a reversão de estruturas e práticas determinadas pelo empreendimento colonial.

Na primeira parte, o livro apresenta uma coletânea de textos de Carl Einstein que tiveram um papel fundamental na inauguração dos estudos sobre a arte da África como fato estético. Nesse sentido, o que se vê é um esforço empreendido para livrar a arte africana da categoria preconceituosa de “primitiva” e de incluí-la na história universal da arte com os atributos que lhe foram negados pela ideologia colonialista veiculada pelo discurso da missão civilizadora.  

Do reconhecimento do estatuto artístico dos objetos africanos, por críticos de arte e artistas ocidentais de grande nome, nasceu a necessidade de transformá-los em estudos da arte. Daí, a importância da abordagem metodológica capaz de dar conta dessa nova demanda.  Carl Einstein foi um dos primeiros estudiosos ocidentais a defender o estatuto liberal da arte africana, ou seja, a teoria da “arte por arte”. 

A segunda parte do livro é constituída de textos que abordam o autor e a sua obra, fazendo uma releitura de seus escritos. A contribuição de Roberto Conduru destaca a natureza parcial da obra do crítico alemão e a boa recepção às suas análises no Brasil, país que recebeu uma parte da população em foco. A de Elena O’Neill identifica armadilhas na formulação de conceitos utilizados por Einstein utilizados em diferentes contextos.

Enriquecido também por textos de Liliane Meffre, José Gomes Pinto, Ezio Bassani, Jean-Louis Paudratt e uma introdução primorosa de Kabengele Munanga, Carl Einstein e a arte da África é uma edição comemorativa que marca a vontade de recuperar os discursos sobre a essa produção artística e afirmar a africanidade no Brasil.

Por Thayssa Martins, graduanda de Letras – Inglês/Literaturas na UERJ e estagiária da EdUERJ.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Acordo Ortográfico será oficial a partir de 01 de janeiro de 2016

Em 1o de janeiro de 2016 começa a valer oficialmente o Acordo Ortográfico assinado entre oito países de língua portuguesa.  Algumas regras gerais já foram assimiladas, mas as mudanças na ortografia ainda confundem profissionais que usam a comunicação escrita no dia a dia e todos os que prezam o uso correto da língua.

O emprego adequado do hífen, os critérios para a acentuação gráfica, as regras especiais e as exceções são algumas das muitas dúvidas que Claudio Cezar Henriques, professor, filólogo e um dos mais destacados especialistas em Língua Portuguesa, esclarece para o leitor da 6ª edição, revista e atualizada, do livro A nova ortografia: o que muda com o Acordo Ortográfico, em edição revista e atualizada.

A nova edição traz as disposições que passaram a reger a nossa ortografia em 2009, oferecendo aos leitores a oportunidade de reforçar as regras e apresentando novas fontes de consulta, como a plataforma VOC (Vocabulário Ortográfico Comum), reconhecida pelos estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cujas conclusões foram finalizadas em julho de 2014 em Díli, no Timor-Leste.

No livro, o autor traça de forma didática a história da ortografia portuguesa, para apresentar os princípios que regem o acordo de unificação e as bases da nova ortografia, facilitando o entendimento de regras aplicadas. Em seguida, expõe as regras de acentuação gráfica, dando ênfase às mudanças que ocorreram com a vigência do acordo, através de exemplificações e exercícios. Indispensável para os profissionais da língua e para todos que desejam fazer uso correto da grafia.


A Nova Ortografia: o que muda com o acordo ortográfico, 6ª Ed.
Autor: Claudio Cezar Henriques
ISBN: 978-85-7511-393-6
Nº de páginas: 208

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Leôncio Rodrigues fala das divisões políticas entre esquerda e direita no Brasil

Um dos fundadores da sociologia do trabalho no Brasil, Leôncio Martins Rodrigues é entrevistado por Maria Andréa Loyola em novo volume da Coleção Pensamento Contemporâneo, editada pela EdUERJ.

A entrevista percorre duas fases distintas da carreira acadêmica de Leôncio – na primeira, ele tem como objeto as classes trabalhadoras e os sindicatos; na segunda, os partidos políticos e as fontes sociais de recrutamento partidário – e sua intensa militância política. O entrevistado aborda, ainda, as divisões políticas entre esquerda e direita no Brasil, afastando-se dos estereótipos que, geralmente, permeiam essas questões. 

Sobre a chamada esquerda brasileira, da qual viriam mudanças sociais em uma direção oposta ao capitalismo, a partir da eleição de um presidente representante de um partido dito de esquerda (PT), Leôncio Rodrigues destaca que “Sindicalistas ou ex-sindicalistas raramente são revolucionários, ao contrário de alguns setores da classe média, como boa parte de intelectuais. O PT chegou ao poder dentro do sistema capitalista e da democracia, obedecendo às regras do jogo eleitoral.”


O livro é enriquecido por comentários de Rachel Meneguello, professora titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp, que analisa a trajetória de Leôncio M. Rodrigues e enfatiza que seus trabalhos criaram parâmetros e orientações imprescindíveis para pesquisadores do cenário político brasileiro.

Por Thayssa Martins, graduanda de Letras – Inglês/Literaturas na UERJ e estagiária da EdUERJ.


Leôncio M. Rodrigues

Autores: Maria Andréa Loyola
ISBN: 978-85-7511-380-6
Nº de Páginas: 78
R$ 25,00


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Noite de autógrafos de "Marca: do marketing ao balanço financeiro"

 Noite de lançamento do livro "Marca: do marketing ao balanço financeiro", de Manoel Marcondes Neto e Mariza Freitas. O público prestigiou o evento, que ocorreu na quinta-feira à noite na Casa Dirce, em Botafogo. Além da tradicional sessão de autógrafos, houve um animado pocket-papo, entre os presentes e os autores. O tema, "Qual é o valor da sua marca?", foi valorizado pelas questões levantadas pelo público.   



Evento realizado no dia 8 de outubro






                                             





quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Marcelo Jacques de Moraes em entrevista sobre Christian Prigent

Marcelo Jacques de Moraes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do CNPq, apresenta uma trajetória acadêmica orientada para a literatura francesa. Reconhecido – com convites regulares para ministrar cursos sobre tradução literária na Universidade de Aix-Marseille e ganhador, duas vezes, da bolsa para tradutores estrangeiros do Centro Nacional do Livro, órgão ligado ao Ministério da Educação da França –,  foi convidado a participar do colóquio, realizado no Centro Cultural Internacional de Cerisy-La-Salle em 2014, sobre Christian Prigent, autor sobre o qual escreveu ensaios publicados no Brasil e na França. Jacques de Moraes e Prigent estiveram juntos no lançamento, realizado durante o Colóquio Internacional Poesia e Interfaces, de Christian Prigent por Marcelo Jacques de Moraes, editado pela EdUERJ através da coleção Ciranda da Poesia.

Marcelo Jacques de Moraes (à esq,) e Christian Prigent (à dir.)
no Colóquio Internacional Poesia e Interfaces (2015).


Como foi o processo de escrita do livro Christian Prigent por Marcelo Jacques de Moraes?

O primeiro livro que li de Prigent, no começo dos anos 2000, foi uma coletânea de ensaios intitulada Salut les anciens, salut les modernes, em que ele saudava, como aponta o título, tanto poetas já inseridos na tradição literária quanto poetas seus contemporâneos, de uma geração mais jovem do que ele, poetas nascidos nos anos 1960. A partir de então, comecei a trabalhar sistematicamente com ele em meus cursos de poesia francesa na universidade. Paralelamente aos textos de reflexão teórica e crítica, fui descobrindo sua obra poética, que, da mesma maneira, dialoga sempre, e ao mesmo tempo, com as mais diversas tradições e gêneros literários. No ensaio para a Ciranda, procurei reconstituir a trajetória do poeta, desde os anos 1960, espelhando esse diálogo constante em sua obra entre a produção propriamente literária e a reflexão teórica e crítica.

Na apresentação do livro, lemos “Em busca de uma língua, contra a língua, mas com a língua, eis uma fórmula que talvez sintetize com precisão o que seja o trabalho poético de – e para – Christian Prigent.”. Como essa perspectiva atravessa sua análise da obra de Prigent?

Prigent trabalha todo o tempo a partir da perspectiva de que nossa experiência do mundo é atravessada primordialmente pela língua, pelo corpo da língua. Como ele costuma dizer, “a língua nunca dorme” e, para fazer face aos “saberes de época”, aqueles que moldam nossa percepção das coisas, não há outra maneira a não ser trabalhar contra – mas sempre com – as línguas que nos cercam. Assim, sem sair do francês, Prigent deriva frequentemente, de maneira mais ou menos explícita, mais ou menos paródica, para línguas ou dialetos mortos, arcaicos ou minoritários (o latim clássico ou vulgar, o francês antigo, o galo, o bretão... ) ou contemporâneos (os diversos extratos da linguagem coloquial, o verlan das cités das grandes cidades francesas, os discursos estereotipados de classe, os jargões de linguagens técnicas, a língua das mensagens SMS...), mas não sem retorcê-los ou reinventá-los. Em minha apresentação, tento mostrar como esse trabalho vai se encarnando em vários tipos de matéria verbal, culminando não apenas em poemas em versos, de grande rigor plástico e formal , mas também em prosas  – não menos sofisticadas formalmente – destinadas às suas performances vocais.

Em conformidade com a tradição da poesia francesa moderna, a obra de Prigent se inscreve na “tensão entre o literário e o político”. Como essa dimensão política aparece na poesia de Prigent? Quais os principais pontos de sua problematização da literatura e da língua materna?

Marcelo Jacques de Moraes, no
Colóquio Internacional
Poesia e Interfaces
(2015).
A reflexão e o trabalho de Prigent sobre a língua são inevitavelmente políticos na medida em que se contrapõem desde os primeiros anos a toda a tradição francesa que se quer destinada à “razão clara” e ao “belo estilo” e que, assim, hierarquiza os extratos vivos da(s) língua(s) do presente e do passado. A literatura, nesse sentido, desperta a potência de transformação e de deformação da língua materna, e a consciência do poder que esta exerce sobre a experiência da realidade.


Fale-nos um pouco da escrita “crispante” ou “encrespada” de Prigent. Como o leitor pode entendê-la?

Trata-se, justamente, da encenação desse processo do despertar para a concretude da experiência do corpo, do mundo e da própria linguagem, despertar que nunca é pleno. Pois a experiência, enquanto tal, nunca pode ser totalmente objetivada na língua, ela nunca é totalmente compartilhável. A escrita de Prigent traz sempre a marca desse confronto, dessa dificuldade.

Prigent pensa o movimento vanguardista como a recusa da produção industrial de seu tempo e da modernidade que o precedera e se academicizara. Como esse ideal atravessa sua obra poética e sua atuação na revista TXT, fundada por ele em 1969?

A perspectiva da vanguarda – e da produção de uma revista – está sempre ligada de alguma forma ao sentido comunitarista, de partilha de uma experiência da linguagem e do mundo. A experiência da TXT foi perpassada por essa dimensão paradoxal que atravessa grande parte dos movimentos de vanguarda, e que o próprio Prigent define assim, referindo-se à revista: “Trata-se de fazer comunidade daquilo que resiste com todas as forças ao assentimento comunitário: cada um afirmando, pela crueza de um estilo, uma radical singularidade”.

Qual seu poema favorito de Prigent e por quê?

Gosto de muitas coisas, e sua obra tem tantas nuances e variações formais e temáticas que é complicado escolher um só texto... Mas cito aqui um pequeno trecho do começo de “Uma frase para minha mãe”, de 1996, texto em que Prigent mobiliza blocos de sensações afetivas e corporais a serviço da invenção linguística – e vice-versa:

Marcelo Jacques de Moraes (à esq.) e
Christian Prigent (à dir.), em praias cariocas (2015).
   "[...] embolo minha pelezinha de galinha nesse
   começo quase absoluto questão dissoluto, minha
   mãe, eu me lembro, foi como uma ratoeira de
   matéria erotífera, quando digo minha mãe tenho
   nos dentes palavras doces e mordentes, contudo
   não que ela o fosse, ela, na verdade, que ela
   fosse doce de morder ou que tivesse dentes
   amargos e ávidos prontos para ferir o coração
   que crescia em cancro na minha carne, minha
   mãe é mais o nome de mim quando não sei,
   enfim, é frequente, minha mãe, de mim o que
  fazer, minha mãe, não digo aquela que de fato me meteu no mundo de fato, também não falo das ameixas e da manteiga do nada que me enche a cabeça quando dormindo faço meu comércio próspero com minhas parceiras d’imagimãe, quando digo minha mãe, falo de tudo que faz que se habite a carne aqui embaixo na terra como as outras carnes, mas com palavras, é isso que lhe dá, à carne, nervo, minha mãe é a bola que tenho na boca e mesmo quando me assoo, não sai fácil, minha mãe é a carcaça em fio de ferro que me faz ficar de pé sobre a terra [...]"

Entrevista concedida a Thayssa Martins, graduanda de Letras – Inglês/Literaturas na UERJ e estagiária da EdUERJ.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Entrevista com os autores de "Marca: do marketing ao balanço financeiro"

Os professores Marcondes Neto e Mariza Freitas estão lançando, pela EdUERJ, o livro "Marca: do marketing ao balanço financeiro", na quinta-feira, 8 de outubro, na Casa Dirce Cortes Riedel. Eles conversaram com o Blog da EdUERJ sobre questões levantadas pelo livro.


Como foi o processo que levou à criação de "Marca: do marketing ao balanço financeiro"?

Marcondes Neto: Após o processo de preparo da dissertação, e diante da riqueza do material obtido, decidimos juntos que o tema poderia render mais, unindo a visão contábil-financeira (original da área em que foi desenvolvida a dissertação, no Mestrado em Ciências Contábeis da FAF/UERJ) à de marketing (onde se desenvolveu a disciplina branding - de gestão de marcas). E não criou-se só um livro, mas um projeto de pesquisa com blog na internet (que realmente foi criado:http://brand-forum.blogspot.com.br/) - que já-já será transformado em website.

Mariza Freitas: Durante o desenvolvimento da dissertação, identificamos certa carência de publicações brasileiras sobre o assunto, e como também havia o ineditismo do case de rebranding da Arthur Andersen, imaginamos que seria uma boa oportunidade de contribuir para os estudos na área.

Para que público este livro é indicado?

Marcondes Neto: Estudiosos do tema branding. Para além de estudantes, profissionais, professores e pesquisadores das marcas comerciais na Contabilidade e no Marketing, também pessoas na Administração, na Comunicação, no Design, na Economia e nas Finanças.

Mariza Freitas: É um livro multidisciplinar.

Qual a maior dificuldade para mensurar o valor de uma marca? 

Mariza Freitas: Primeiramente, cabe dizer que a mensuração de valor de uma marca, em linhas gerais, pode ser: (1) qualitativa, em que se avaliam, por exemplo, as medidas de lealdade à marca, qualidade percebida, associações, conhecimento e comportamento de mercado. A isso denominamos brand equity; e (2) quantitativa, em que se atribui um valor monetário à marca, seja para uma avaliação técnica (foco financeiro baseado em um modelo estático) ou gerencial (foco estratégico baseado em um modelo dinâmico). A isso denominamos brand value.
Em segundo lugar, que essa valoração monetária da marca pode ser feita com diversos propósitos, tais como: venda do ativo, licenciamento de uso, planejamento orçamentário, decisão de investimentos, entre outros.
Seja qual for a perspectiva, qualitativa ou quantitativa, a maior dificuldade para essa mensuração está na subjetividade intrínseca das variáveis que serão utilizadas, e na indefinição de um conjunto ótimo de variáveis e da sua ponderação dentro do modelo. Outro fator a ser considerado é a diversidade de metodologias existentes, haja vista que ainda não temos definido pela literatura qual método melhor se aplica a cada propósito.

O Brasil está passando por uma modificação para se adaptar aos "International Finance Reporting Standards". Qual é a principal diferença em relação às normas adotadas anteriormente?

Mariza Freitas: Diferentemente do tradicional sistema contábil brasileiro, baseado em regras bem definidas (rules-based) e fortemente influenciado pelo ambiente fiscal, as normas internacionais fundamentam-se em princípios conceituais (principles-based) e apresentam ênfase na substância econômica das operações e no exercício de julgamento dos profissionais da área contábil. Sob esta nova perspectiva, mais subjetiva e discricionária, essas normas privilegiam a essência sobre a forma a fim de que as informações contábeis representem adequadamente os fatos e a real posição financeira da entidade, e forneçam uma visão justa e verdadeira (true and fair view) da organização.

Atualmente é possível uma empresa estar consolidada no mercado sem um trabalho especial envolvendo sua marca?

Marcondes Neto: Não. Branding, hoje, como disciplina de negócios, praticamente substituiu o Marketing. Fica impossível, atualmente, começar um negócio sem marca, ou começar com o conceito errado de marca. Corrigir depois é um desastre. Marca tem que ser pensada no início, assim como se pensa em sede, fontes de financiamento e de suprimento, gestão de pessoas.

Mariza Freitas: No que entendemos como o conceito de mercado no mundo atual, não. As organizações precisam do branding para se consolidar. Isso, porém, nem sempre é verdade em outros tipos de mercado.

Em mercados não competitivos, monopolistas ou comoditizados, a marca é apenas um símbolo nominativo e identificador da origem do bem, apresentando um valor econômico muito baixo, haja vista que o mais importante para o consumidor é o desempenho do produto em relação à sua funcionalidade, seu preço e sua utilidade. Nesse ambiente, as empresas não costumam investir muito na consolidação da sua marca, pois o foco estratégico, em geral, é o quantitativo de produção, objetivando atingir o maior nível possível de economia de escala para minimização de custos.
Já em mercados competitivos, torna-se necessária a incorporação de uma nova competência: o marketing de produtos e serviços, representando a capacidade de convencer os consumidores a comprar a sua marca e não a da concorrência.

Os mercados globalizados, mais amadurecidos e com consumidores altamente exigentes e altamente competitivos, obrigam as empresas a, primeiramente, conhecer o seu público alvo em profundidade e, em seguida, a estabelecer um relacionamento duradouro com esse público. Para isso, a empresa precisa criar um canal de comunicação consistente e eficaz que represente não apenas o seu produto, mas também a sua cultura, seus valores e propósitos E esse canal é a marca. Aqui, ela se torna a interface, o elemento de união da empresa com a sociedade, ganhando status de ativo estratégico de suma importância para a sustentabilidade da organização e, portanto, demandando todo um “trabalho especial” de gestão da marca.


Um dos atrativos do livro está nas entrevistas que vêm como apêndice. Gostaria que os autores falassem um pouco sobre esse material.

Mariza Freitas: Esse material é a transcrição das respostas ao questionário da pesquisa e consiste, basicamente, nas opiniões de acadêmicos e profissionais de diversas áreas (representando a multidisciplinaridade do estudo) sobre a importância das marcas para organizações hoje e no futuro; as restrições normativas à contabilização das marcas, suas causas e seus impactos; as metodologias de avaliação das marcas; e os aspectos gerais do ambiente contábil para a contabilização das marcas como ativo intangível das empresas.

O livro traz o caso de rebranding de Andersen Consulting para Accenture. Como surgiu ideia da inclusão desse capítulo e sua importância no contexto do livro.

Marcondes Neto: Foi uma oportunidade única de apresentar o caso ao Brasil. A Accenture tem escritórios no Rio e em São Paulo, lidera o segmento de consultoria de gestão empresarial e tecnologia da informação, mas o rebranding ainda não havia sido contado, apesar da operação brasileira ter sido uma das mais bem sucedidas em todo o mundo na operação da migração da marca Andersen Consulting para Accenture. A construção de uma marca; todo o processo de pesquisa que o antecede e todo o trabalho envolvido em difundi-la globalmente está lá, narrado por quem o viu de perto.

Hoje, algumas empresas produzem uma divulgação institucional que às vezes recai no "politicamente correto", como se sentissem obrigadas a se associar a questões como a proteção ao meio ambiente, ao combate à miséria ou na luta contra doenças. Até mesmo as multinacionais do cigarro investem em pesquisas que demonstrem os benefícios da indústria do fumo. Por outro lado, é muito comum a desconfiança do consumidor em relação a essas ações, descrédito que aumenta quando os serviços prestados pelas empresas ignoram os direitos/anseios básicos do consumidor. O resultado disso é uma distância entre como um cliente vê uma determinada marca e a imagem que ela pretende transmitir. Esse é um fenômeno mundial ou acontece mais em países pouco desenvolvidos, onde há falta de transparência e os direitos de consumidor são ignorados?

Marcondes Neto: O fenômeno do "politicamente correto" é global. Assim como as marcas. E, sim, nos países menos desenvolvidos há menos compromisso entre as promessas e as "entregas" feita pelas empresas. O caminho para encurtar a distância entre o que se diz e o que se faz é mais educação da população para a sedução da mídia e para o chamamento do consumo. Consumidores-cidadãos são mais exigentes. E as marcas de produtos e de empresas - que também querem ter cidadania empresarial pela conduta ética e responsabilidade socioambiental - precisam ser resultado de evolução de práticas empresarias mais justas, menos poluentes e mais transparentes. E não mera propaganda ... do tipo enganosa.

Mariza Freitas: Em geral, em países mais desenvolvidos, a sociedade é mais culta e exigente e, por isso, menos tolerante a dissonâncias entre a imagem projetada e a prática das organizações. Nesse caso, as empresas não apenas precisam mostrar uma imagem, mas, de fato, provar que suas ações são compatíveis com aquilo que comunicam a seus stakeholders. Isto é, que há coerência e alinhamento entre seu discurso e sua prática, ou melhor, entre o que marca comunica, o que a empresa entrega e o que o consumidor percebe.

Já nos países menos desenvolvidos, onde os mercados por vezes margeiam o monopólio e a "comoditização", esse alinhamento costuma ser menos frequente. O problema é que isso, infelizmente, nem sempre representa prejuízo econômico para as empresas que operam nesses mercados. 

Qual a maior qualidade do livro "Marca: do marketing ao balanço financeiro"?

Marcondes Neto: É seu aspecto pioneiro, discutindo um tema que é desafio em todo o mundo, ao mesmo tempo, hoje: como aproximar valor de mercado (aquele percebido) do valor que efetivamente a empresa pode lançar em seu balanço financeiro. Como se sabe, a Contabilidade deve ser o retrato fiel - em números - das operações de um dado negócio. Quando o discurso sobre "valor" alcança cifras gigantescas, é preciso ligar a luz amarela nas decisões financeiras em operações de fusões e aquisições de empresas, por exemplo. Neste assunto, vale a desconfiança popular sobre se uma mercadoria "vale mesmo o tanto quanto pesa"... ou alardeia que pesa.

Mariza Freitas: A sua multidisciplinaridade. Oferecer uma reflexão simplificada e abrangente sob diversos aspectos de um tema atual e controverso. 

Por fim, o Blog da EdUERJ deseja sucesso ao lançamento do título!

Marcondes Neto:

Somos gratíssimos pelo endosso que a EdUERJ dá a mais este trabalho produzido nas entranhas da Universidade.