terça-feira, 28 de julho de 2015

Sereia de papel: visões de Ana Cristina Cesar

O livro que a EdUERJ agora oferece ao leitor representa antes de mais nada o interesse pela obra poética-crítica de Ana Cristina Cesar, que iniciou carreira publicando livros fora do circuito editorial e tornou-se parte viva da poesia brasileira, em um reconhecimento à potência e ao refinamento de seu trabalho.

Além disso, os ensaios reunidos nessa coletânea recuperam pontos importantes  da poesia brasileira,  em um movimento crítico de pesquisadores que apontam para uma revisão, uma reconfiguração histórica e ampla que ainda precisa ser empreendida sobre a obra de toda uma geração de poetas.

Trata-se, portanto, da iniciativa de pesquisadores interessados em trazer as discussões dessa geração e recolocá-las em nosso tempo. Estão reunidos nomes da construção da crítica literária de Ana Cristina como Viviana Bosi, Michel Riaudel e Maurício Vasconcelos, assim como representantes da nova crítica literária universitária.

A obra de Ana Cristina Cesar, contemporânea da  poesia marginal dos anos 1970, dialoga com o leitor, que precisa interagir com o poema e completá-lo com suas próprias sensações e experiências, para que as palavras possam sair do papel, revela Viviana Bosi, organizadora da obra, ao lado de Álvaro Faleiros e Roberto Zula.


Ana Cristina nasceu no Rio de Janeiro, 1952. Fez Letras na PUC-Rio e concluiu mestrado em Comunicação na UFRJ, em 1979. Publicou seus primeiros livros em edições independentes. Cursou o Master of Arts, sobre tradução literária na Universidade de Essex (Inglaterra), em 1980. Publicou A teu pés, em 1982. Suicidou-se no ano seguinte, no Rio de Janeiro. Por vontade expressa, seu acervo ficou na casa de Armando Freitas Filho que organizou a edição de Inéditos e dispersos (1985).

Hoje, o acervo é guardado pelo Instituto Moreira Salles e está disponível em : http://www.ims.com.br/ims/explore/artista/ana-cristina-cesar/no-ims


Por Carmem Prata
Jornalista, estuda tecnologias de comunicação e cultura. 
Trabalha em editora desde 2003 e estuda o livro e a escrita desde 2008.
@carmem_prata

Sereia de papel: visões de Ana Cristina Cesar 
Álvaro Faleiros, Roberto Zular, Viviana Bosi (Orgs.) 
ISBN: 978-85-7511-381-3 
Nº de Páginas: 214 
R$ 40,00


sexta-feira, 24 de julho de 2015

EdUERJ lança “O monstro contemporâneo”

Construir um olhar antropológico sobre um tema que é tabu na sociedade atual. Esta é a proposta de O Monstro Contemporâneo: a construção social da pedofilia em múltiplos planos (EdUERJ, 2015), de Laura Lowenkron. 

O livro, que analisa as dimensões e categorias da violência sexual contra crianças e adolescentes, será lançado na quinta-feira, 06 de agosto, na Blooks Livraria, ás 19:00h. A livraria fica na Praia de Botafogo, 316. Rio de Janeiro - RJ.  

Baseado em uma etnografia da CPI da Pedofilia, realizada no Senado Federal, e em investigações pela Polícia Federal, no combate à pornografia infantil, a obra convida o leitor a uma imersão na construção histórica das categorias ‘pedofilia’ e ‘pornografia infantil’, além de revelar como os termos acabam por ser confundidos nos discursos públicos. 

Essa contribuição aos estudos sobre Estado, sexualidade e infância destaca-se pelas estratégias de pesquisa que foram utilizadas para abordar a construção da pedofilia como problema social e como caso de polícia, demostrando um hábil trabalho etnográfico realizado pela autora.  A investigação analisa as diferentes forças e estratégias acionadas para particularizar a violência sexual contra crianças, no plano nacional e internacional.

A publicação integra a Coleção Sexualidade, gênero e sociedade, do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (Clam), cuja finalidade principal é produzir, organizar e difundir conhecimentos sobre a sexualidade na perspectiva dos direitos humanos, contribuindo para a diminuição das desigualdades de gênero e para o fortalecimento da luta contra a discriminação das minorias sexuais na região. Para tal, o Clam articula parcerias e coordena atividades regionais no Brasil, Argentina, Chile, Peru e Colômbia.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Comunicação, organizações e cultura digital é lançado pela Eduerj

Comunicação, organizações e cultura digital (EdUERJ, 2015) é fruto da observação de diversos professores, sobretudo da área de comunicação, muitos deles da UERJ. É uma coleção de ensaios que trata de questões que influenciam o nosso cotidiano e que podem passar despercebidas.

Para estudiosos de comunicação, da administração ou mesmo da sociologia, cada vez mais é preciso erigir um pensamento sobre os mecanismos que regem as relações interpessoais ou do ambiente profissional. Hoje, dada a forma como as novas tecnologias afetam o cotidiano, vivemos em um mundo completamente diferente do que havia há uma década. Em uma velocidade acachapante estamos compartilhando informação, criando vínculos, marcando posições, estabelecendo conexões.

A relação entre empresa e a representação nas redes sociais é um ponto recorrente em muitos capítulos deste livro. Antes da ascensão das redes sociais, as mídias tradicionais, como a TV e o jornal, eram praticamente a única influência midiática sobre as escolhas da sociedade, e não havia muito espaço para o público se manifestar.

Hoje, como assinala o texto de Antonio Luiz de Medina Filho, "o poder não é mais o mesmo, está mais distribuído, apresenta outras possibilidades de resistências”. Isto se evidencia particularmente no capítulo de Ivone Lourdes de Oliveira e Vanessa Bueno Mol, que faz alusão ao movimento no Facebook contra uma linha de bolsas e sapatos derivados de peles de animais. O protesto repercutiu de tal forma que levou a grife responsável a cancelar a linha de produtos. Além disso, influenciou também outras empresas do ramo que, ao perceberem a péssima resposta do público, desistiram de lançar produtos similares.

Um desfecho de caso em sintonia com o pensamento apresentado no ensaio de Fernando Gonçalves e Alessandra Maia, sobre organização e mídias digitais. Para estes, as empresas, no tocante às mídias digitais e internet, devem “pensar seu papel no seio da mudança e não apenas se adaptar a elas”.

Um dos avanços do mundo moderno é discutido no artigo assinado por Heloísa Mônaco dos Santos e César Tureta. No texto, chama-se atenção para essa realidade em que “o desempenho das atividades de trabalho só pode ser realizado na medida em que os gestores se associam aos elementos não humanos”. Chamado de “ciborganização”, o processo decorre da incorporação de elementos tecnológicos como smartphones e notebooks como se fossem extensões do trabalhador. Nesse fenômeno, o trabalho como sinônimo de atividade em um lugar específico é substituído por tarefas em locais diversos.

Como é impossível escapar das benesses (e os malfazejos) do mundo tecnológico, não seria exagero se alguém dissesse que os temas abordados são tão atuais, que, genericamente falando, é um livro sobre a vida. Exagero? Ora, de que falamos ao nos referirmos a um conjunto que inclui atividade profissional e relações pessoais?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Resenha da Ciranda da Poesia na revista Raído

Esta é uma resenha da Ciranda da Poesia, escrita por Ana Paula Macedo Cartapatti Kaimoti, que saiu na revista Raído, publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados, de Mato Grosso do Sul, em junho/julho de 2015. (Kaimoti, Ana.  D. Douglas Diegues: por Myriam Ávila, revista Raído, Mato Grosso do Sul, p. 173, junho/julho de 2015)

RESENHA LITERÁRIA DIEGUES, D. Douglas Diegues: por Myriam Ávila. RJ: EdUERJ, 2012. Coleção Ciranda da Poesia 

Ana Paula Macedo Cartapatti Kaimoti

Já há algum tempo, a cena atual da crítica de poesia no Brasil tem manifestado uma dificuldade que, a depender do crítico, é atribuída ou à produção poética contemporânea ou a obstáculos que resultam do trabalho da própria crítica. No primeiro caso, considera-se que, da década de 90 do século XX para cá, houve um excesso de conservadorismo, sinalizador de um engessamento da experimentação, ligada à vanguarda concreta, e uma banalização da experiência, no sentido em que ela foi proposta pela poesia marginal. Nessa perspectiva, parte-se do pressuposto que a última referência transformadora da poesia brasileira se deu no embate entre concretismo e poesia marginal, paradigma do qual nenhum poeta pode fugir a não ser por meio de uma espécie de recalque, por si só significativo, porque indica uma relação problemática e, a contrapelo, produtiva, com essa herança (SISCAR, 2005).



terça-feira, 7 de julho de 2015

Livro debate comunicação, organizações e cultura digital

Em um mundo globalizado, as tecnologias insinuam-se cada vez mais indispensáveis, modificando as relações entre pessoas no trabalho e as formas como as empresas interagem com o seu público-alvo.

Compreender as novas teias comunicacionais, assim como os desafios que se renovam nesse mundo em tempo real é a proposta de “Comunicação, organizações e cultura digital” (EdUERJ, 2015), organizado por Fernando Gonçalves e Antonio Luiz de Medina Filho.

Os ensaios abordam temas caros não só aos estudiosos de comunicação, mas também aos que pesquisam administração ou aspectos da sociologia. A leitura contribui para a compreensão de uma sociedade cujas relações são influenciadas de forma decisiva pelas tecnologias de comunicação e de informação. São tratados tópicos como a nova ecologia das mídias (representada pela ascensão das redes sociais e da possibilidade de interação direta entre público e empresa), a proposta estética dos hackers, o dilema diante da multiplicidade das redes, e a possibilidade da utilização da internet para captar recursos em projetos sociais.

Mais do que uma digressão sobre o presente, o leitor encontrará, na obra, um caminho para construir reflexões sobre o futuro e também articular o seu papel crítico no redemoinho de interações que se movimenta em velocidade crescente.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Palestra com Jens Andermann, autor de "A Óptica do Estado"

Jens Andermann fará uma palestra no Instituto de Letras da Uerj no dia 7 de julho. O tema é bioarte e conta também com a presença do artista plástico Eduardo Kac.

Tendo em vista essa visita, nada mais oportuno do que comentar seu livro publicado pela EdUERJ em 2014, “A Óptica do Estado: visualidade do poder na Argentina e no Brasil”. Reproduzo alguns trechos que suscitam abstrações sobre história, cultura, poder, urbanismo; enfim, sobre aquilo que molda os grandes centros urbanos da América Latina. O livro de Andermann, com tradução de Guilherme Puccini, é fruto de uma de uma análise sobre  os museus, os mapas e múltiplos objetos concebidos no final do século XIX na Argentina e no Brasil.

Ao passearmos pela Praça XV, dificilmente paramos para concatenar alguma reflexão sobre a estátua que ali paira. Alguns sequer imaginam quem seja a tal figura histórica, quiçá o significado daquela construção. Leia o que o professor disse sobre o Monumento em homenagem ao General Osório erguido no local:

“O monumento reapropriou o espaço urbano e nacional em nome da vitoriosa República. Comandante e chefe brasileiro durante a Guerra do Paraguai de 1865 a 1870, Osorio foi um candidato plausível a herói fundador do nacionalismo militar. Por meio de sua glorificação, a história poderia ser rescrita como uma tradição de luta militar vitoriosa desde sempre, combatendo pela República. A imortalização escultural e fotográfica de Osório foram os componentes visuais de um complexo rito de reapropriação de um espaço urbano que havia sido o centro cerimonial do Estado Imperial. Seu processo ritual também evolveu o sepultamento dos restos do general em uma pequena cripta sob o monumento e o rebaptismo da praça como Praça XV de novembro, em recordação da revolução republicana.”

Aqui é basicamente o fundamento da pesquisa de Andermann:

“É claro que o poder público na américa latina sempre se expressou de formas tanto visuais e sonora quanto discursivas – os elaborados rituais públicos da monarquia imperial entre 1822 e 1889 sendo apenas os mais surpreendente dos muitos  exemplos.  Mas eu argumento que foi somente mais para o fim do século que ás formas visuais foi explicitamente confiada uma função hegemônica.  Os povos têm necessidades de relíquias e de santuários para conservarem a tradição, como afirmou o presidente da Argentina Miguel Juárez Celman em um discurso diante do congresso em 1887.

A proposta da Óptica do Poder:

“Estudarei as maneiras pelas quais essa limitada e contraditória tentativa de hegemonizar a sociedade através das formas visuais expressou a si mesma: não meramente os monumentos e os templos, mas também formas menos explicitas e portanto frequentemente mais persuasivas, como as mostras de museus, os relatos fotográficos de viagem, as pinturas paisagísticas  e históricas, os mapas e os atlas”.

Andermann enfocou a questão do Museu sob uma ótica diferente:

“Enquanto os museus dos anos 1860 e 1870 apoiaram ativamente a organização das exposições de comercio e indústria, para o fim do século, eles gradativamente se configurariam como guardiães dos valores imateriais e permanentes intocados pelo mercado e sua frívola estética do efêmero e do espetacular. Os museus passaram a ser concebidos como um refúgio contra a cultura visual do mercado, anunciando um processo mais geral de diferenciação entre os reinos do Estado e do capital”.

A natureza também possui um papel vital para a “visualidade de um país”, como uma herança colonial:

“A natureza continua a emblematizar o caráter distintivo do nacional porque esse era o modo pelo qual ela representava a nação no mercado mundial, a despeito de sucessivas tentativas de industrialização nacional. Em nossos dias essa performance da natureza encontra seu último refúgio no consumo visual de paisagem do turismo internacional”.

Depois de ler “A Ótica do Estado...”, a conclusão é que o Estado está fundado não em mapas, museus ou fotografias, mas no modo de ver que eles invocam.
Jens Andermann também escreveu sobre cinema brasileiro e argentino. Por ora, os interessados em arte e cultura podem conferir sua palestra no Instituto de Letras.

Palestra: Formas vivas - bioarte latino-americana e a sobrevida das paisagens, por Jens Andermann. Com Eduardo Kac.
Local: Mini auditório da pós-graduação do Instituto de Letras, Uerj Maracanã
Dia: 7 de julho (terça) Hora:17h